Conheça mais sobre a importância dos telhados verdes na arquitetura e construção sustentável
Ao contrário do que pode parecer, os telhados verdes não são uma novidade no mercado de arquitetura e construção sustentável. Este sistema de cobertura é utilizado há milênios, em muitas regiões do mundo. Até hoje, existem construções do período neolítico que apresentam como solução para a cobertura o uso de telhados verdes. Alguns exemplos deste é em New Grange, na Irlanda com mais 5.200 anos, ou os Jardins Suspensos da Babilônia, em 600 anos a.C., um monumento ícone que incorpora a utilização de coberturas vivas integrada ao paisagismo.
A partir da década de 70, quando o mundo vivenciou sua primeira grande crise energética, foi possível perceber a dependência das edificações com o consumo de energia. A iluminação artificial permitiu que atividades diárias pudessem ser feitas a qualquer hora e a temperatura do ar pudesse ser controlada por ar condicionado. Por outro lado, pensar a edificação como um elemento capaz de, passivamente, permitir condições adequadas de conforto deixou de ter a mesma importância.
De acordo com a Tellus Arquitetura Sustentável, a arquitetura bioclimática procura justamente criar essas condições, para que, por exemplo, o uso de condicionadores de ar seja o mínimo possível, garantindo assim o baixo consumo de energia ao longo do ano. “Uma edificação com foco em sustentabilidade, ou mais precisamente em eficiência energética, precisa ser concebida por meio de um projeto de arquitetura que contemple uma série de fatores para garantir propriedades bioclimáticas adequadas para os usos aos quais se destinam. E o telhado verde é uma das estratégias mais eficientes que podemos adotar!”, conta Ormy Hütner Júnior, arquiteto e urbanista da Tellus.
Os benefícios do telhado verde
Além dos benefícios que os telhados verdes podem proporcionar à edificação, podemos agregar ainda os benefícios que essa tecnologia pode trazer às cidades de forma geral.
Edificações que procuram ser energeticamente eficientes encontram nos telhados verdes uma forma de garantir o melhor desempenho térmico e acústico, atendendo à Norma de Desempenho (ABNT NBR 15.575), que atualmente é obrigatória para muitos empreendimentos. “Podemos afirmar que os telhados verdes atenuam a amplitude térmica dos ambientes ao longo do ano, minimizando picos de temperatura, tanto para o frio quanto para o calor, preservando uma faixa de temperatura dentro de uma zona de conforto que evita o uso de equipamentos condicionadores de ar”, explica Aline Araújo, engenheira ambiental da Tellus Arquitetura.
Com relação às cidades, o uso e a obrigatoriedade de telhados verdes em diversos lugares no mundo ocorrem em razão dos benefícios que eles geram, se tornando de fato como uma política pública com incentivos fiscais para quem utiliza, como IPTU Verde, em alguns municípios.
Durante o verão, principalmente, os brasileiros acompanham cenários de calamidade em função de chuvas intensas, em várias regiões do país. As cidades brasileiras não têm capacidade de atender, por meio de sua infraestrutura de saneamento e drenagem urbana, o escoamento eficiente das chuvas em determinadas estações do ano. Justamente por essa deficiência que muitas cidades estão incentivando o uso de telhados verdes como forma de reter a água da chuva nos momentos de grande intensidade pluviométrica.
Telhados verdes podem reter, facilmente, em torno de 50% da água de chuva que incide sobre uma determinada área, conforme estudo desenvolvido pela arquiteta e urbanista da Tellus Arquitetua, Adriane Savi. Em momentos de picos de chuva, essa água fica retida e só depois seu excedente é escoado para as galerias de drenagem urbana. Essa capacidade dos telhados verdes de reter água de chuva já justificaria sua implementação em centros urbanos adensados.
Os telhados vedes podem contribuir ainda mais para as nossas cidades, pois diminuem as ilhas de calor dos grandes centros, filtram poluentes do ar e atenuam a poluição acústica. Do ponto de vista ecológico, eles ainda podem propiciar o retorno da biodiversidade de fauna e flora, muitas vezes perdida nesses locais.
Como montar telhados verdes
O uso de telhados verdes deve sempre ser conduzido por um profissional habilitado, pois se trata de um sistema construtivo que pode trazer impactos na construção. “Os telhados verdes são compostos de camadas que devem ser executadas de forma compatibilizada com vários outros projetos, como por exemplo projeto estrutural, projeto de impermeabilização e projeto de drenagem”, detalha Adriane Savi, arquiteta e urbanista da Tellus Arquitetura.
Além disso, a arquiteta destaca a importância da tipologia de telhado verde que será aplicada, definida no projeto arquitetônico e paisagístico. Somente desta forma, o profissional sabe qual a carga do telhado verde, através da sua espessura, tipo de substrato, tipos de espécies vegetais e tipologia da drenagem.
As camadas do telhado verde
Camada 1: impermeabilização
A camada de impermeabilização é tão importante quanto a estrutura que vai receber o telhado verde, para a garantia da estanqueidade do sistema. Atualmente, existem inúmeras formas de impermeabilizar uma estrutura, cabendo a um profissional habilitado especificar o sistema mais adequado e de acordo com as normas vigentes.
De acordo com os sócios da Tellus Arquitetura, o mito de que os telhados verdes diminuem a vida útil da impermeabilização é realmente, só um mito. “Na realidade, os telhados verdes aumentam a vida útil da impermeabilização, porque sua inércia térmica minimiza os movimentos de dilatação do sistema de impermeabilização (como mantas asfálticas, por exemplo) e evitam o desgaste do material. Contudo, indicamos sempre inserir uma camada antiraiz sobre o sistema de impermeabilização, para evitar que raízes agressivas de algumas espécies de plantas venham a danificar esse sistema”, explica Ormy Júnior.
Camada 2: drenagem
Outra camada fundamental é a drenagem. Nela é possível considerar a utilização de uma tecnologia que usa agregados graúdos (como argila expandida) e geotêxteis, mas também utilizam geocompostos drenantes e módulos que auxiliam ainda no armazenamento de água de chuva para abastecer as plantas em períodos de estiagem.
Esse sistema deve garantir o escoamento eficiente do excedente de água de chuva quando o substrato já se encontrar em estado de saturação, ou seja, seus poros estejam preenchidos com água.
Camada 3: paisagismo
A última camada é a etapa de paisagismo propriamente dita. Ela pode ser dividida ainda em duas sub etapas: substrato e plantas.
Ao contrário do que muitos pensam, é indicado evitar o uso de terra para telhados verdes, em função de ser um material pouco drenante, que se compacta muito facilmente. O substrato para telhados verdes pode até conter terra, mas deve ser misturada com outros insumos para garantir uma drenagem eficiente, assim como condições físico-químicas para a manutenção das plantas e de todos os seres vivos que vão se desenvolver nessa camada.
“Do ponto de vista ecológico, recomendamos sempre o uso de matéria orgânica e fertilizantes orgânicos, que são capazes de autorregular as propriedades físico-químicas do substrato, propiciando condições saudáveis de desenvolvimento das espécies vegetais”, detalha Adriane Savi.
Por fim, o que mais se destaca em um telhado verde: as plantas!
A escolha das espécies que serão utilizadas depende do uso e da função do telhado verde em determinada cobertura. Telhados verdes podem ser utilizados como elementos de cobertura, áreas de contemplação, vivência e até produção de alimentos. Nesta etapa, o projeto de paisagismo deve levar em conta outros fatores, como dados climáticos do local (luminosidade, temperatura e índices pluviométricos) e o sistema de drenagem adotado (composição e espessura do substrato). Com base nessas informações, o arquiteto paisagista pode elaborar um projeto e indicar as plantas mais adequadas.
Os telhados verdes são uma atividade multidisciplinar que envolvem uma série de etapas importantes, que devem ser realizadas por profissionais habilitados para garantir um bom desempenho de todo o sistema. A Tellus Arquitetura Sustentável entende que todo o investimento do telhado verde retorna para os clientes de forma imediata: seja por meio da reconexão das pessoas com um ambiente repleto de biodiversidade, que traz um benefício psicológico, de saúde e bem-estar difícil medir em valores monetários; seja por meio do retorno financeiro, com a redução do consumo de energia por conta da melhoria das condições de conforto térmico da edificação.
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